04 maio 2013

Coincidências do Destino - Parte 1

- Post Automático -


Jennifer

- Boa tarde, posso ajudá-la? – pergunto a uma senhora elegante que acabou de entrar na loja e ela sorri para mim. Trabalho já há algum tempo em uma loja de roupas muito famosa aqui na Inglaterra. Gosto muito de trabalhar aqui, o ambiente é bom e eu me dou bem com as pessoas que trabalham comigo. 
Hola. – ela responde e eu sorrio. Estrangeira, imaginei. Pergunto novamente se ela precisa de algo, só que dessa vez em sua língua nativa e ela parece bem surpresa quando vê que eu falo espanhol fluentemente. Apenas sorrio e agradeço quando ela me elogia. Não comento que, além de espanhol e inglês, também falo alemão e português porque não quero me gabar. Mas eu falo. Desde pequena, na verdade. Minha família é meio maluca. Minha mãe era argentina, meu pai brasileiro, mas meus avós por parte de mãe eram alemães e depois do casamento meus pais vieram para a Inglaterra e meus avós vieram junto. Maluco e complicado, é, eu sei. E desde que eu nasci eles falam comigo em suas línguas nativas, então acabei aprendendo. O inglês eu aprendi naturalmente, por ter nascido e sido criada aqui. Dá pra imaginar que loucura eram as reuniões de família. 
Gracias! – digo, acenando para a mulher, que sai dali com uma sacola cheia de roupas. 
- Não sei como você pode ser fluente em quatro línguas e ainda trabalhar como vendedora. – ouço Chloe dizer e rio; ela me fala isso quase todos os dias. Viro para encará-la e sorrio. – Já sei! Você vai me responder que já está na faculdade de comércio exterior e que continua aqui porque gosta. Caramba, se eu fosse você ia sair por aí esfregando na cara de todo mundo que falo três outras línguas além da minha própria e ia trabalhar como tradutora em tempo integral para seduzir vários turistas. 
- Isso é porque você gosta de se gabar. – respondo e ela ri alto, me mostrando a língua. – Sei que vai sentir minha falta enquanto eu estiver no Rio de Janeiro. 
- Isso é verdade. – ela faz cara de triste e eu abraço-a, indo até os fundos da loja para me trocar e ir embora. Seria a primeira folga realmente longa que eu tiraria desde que comecei a trabalhar ali. Tenho uma prima chamada Melanie, e ela é uma modelo de sucesso. Minha tia, mãe dela, faleceu há alguns meses e era ela quem acompanhava Mel para todos os lugares. Ela tem um desfile grande no Rio de Janeiro e queria algum familiar por perto, e também precisaria de uma tradutora. Aceitei ir junto e, apesar de ter que traduzir as coisas, seriam férias para mim, já que Melanie é a minha melhor amiga e aproveitaríamos para ficar mais um tempo por lá depois do desfile. O bom era que eu não precisaria pagar nada, já que os empresários de Mel bancavam tudo. Seria bom. Claro que o grande sonho da minha vida era ir para a Austrália (meu cofrinho dentro do armário e as horas extras que eu passava trabalhando na loja provavam isso), mas como a viagem ao Rio não me custaria nada do meu fundo pró-Austrália, eu topei ir. 
Já tinha metade do que precisava para a viagem até a terra dos cangurus, era só economizar mais um pouco e eu conseguiria. 
Saio da loja, acenando para todas e respondendo com um sorriso aos desejos de “Boa Viagem” de minhas colegas de trabalho e de minha chefe. Moro quase ao lado da loja, então vou andando para casa; não sem antes passar em uma loja de revistas e comprar uma com a previsão astrológica do dia seguinte. Sou de Áries e olho meu horóscopo todos os dias. Minha mãe tinha essa mania e eu peguei dela. Desde criança confiro as novidades do meu signo, e acredito piamente nas previsões que estão ali. 
Ao chegar ao meu pequeno apartamento alugado, deixo as coisas em cima do sofá e vou até a geladeira. Preparo um sanduíche e volto à sala para ler a revista que comprei. 
Aqui diz que minha vida vai mudar e que vou conhecer alguém especial. Não diz se é algum amigo ou namorado, mas mesmo assim fico intrigada. Quem seria esse alguém especial? Eu o conheceria na viagem? Oh, céus. Melhor arrumar minha mala logo. 


Christian

- Professor, poderia explicar novamente essa última parte, por favor? Não consegui compreender. – uma aluna no final da sala ergue o braço e faz a pergunta, com um ar de dúvida. Eu sabia por que ela estava apreensiva. Alguns professores aqui da universidade não tinham paciência de explicar as coisas novamente, então simplesmente não o faziam. Mas eu não era assim. Sorrio e sinto o alívio da aluna. 
- Claro... 
- Willow. 
- Claro, Willow. Posso repetir sem problemas. – respondo, sorrindo, e volto a olhar para o quadro. – Quando temos esses dois elementos... – explico novamente, só que desta vez mais devagar e de modo um pouco mais simplificado e sinto que Willow não era a única com aquela dúvida na sala. Ela só foi corajosa o suficiente para perguntar. Estudantes. Às vezes não entendo o que se passa na cabeça deles. 
Sou professor de Química em uma universidade muito famosa da Inglaterra. Dou aula ali há dois anos, praticamente desde que me formei. Gosto dali, é um lugar agradável de trabalhar, na maioria das vezes. E o salário é bom. Dá para economizar para minha viagem para a Austrália sem maiores prejuízos. Sim, Austrália. Meu sonho desde pequeno é ir para lá. Um dia, por volta de meus nove anos, estava assistindo televisão, quando acabei me deparando com um documentário sobre a Austrália, falava sobre sua história e também sobre como era hoje. Foi amor à primeira vista. Desde aquele momento, decidi que precisaria ir até lá. Assim que terminei a faculdade, passei a usar parte do dinheiro que ganhava trabalhando para economizar para tal coisa. 
Uma batida na porta me desperta e levo um susto ao ver minha irmã ali. Brianna é três anos mais velha que eu, recém-formada em moda e trabalha para um estilista famoso. Ela é bem... Diferente, digamos. Veste-se com roupas coloridas e a cada dia seu cabelo está preso de uma forma diferente. Hoje está para um lado só, o que é praticamente normal se compararmos aos outros penteados que usa. Não faço a mínima ideia de o que ela está fazendo ali, então apenas a encaro enquanto ela para ao meu lado. 
- Olá! – diz para os alunos, e eles respondem desconfiados. – Para quem não me conhece, sou Brianna. Irmã do Chris. – observo alguns alunos erguerem as sobrancelhas e minha irmã aponta para mim. Eles então entendem e sorriem. – Vim aqui porque preciso da ajuda de vocês. 
- Como? – pergunto, incrédulo, e ela sorri. 
- Espere e verá, maninho. – fala, piscando para mim e eu fico ainda mais surpreso. Que raios ela está fazendo aqui? Brianna nunca apareceu em meu local de trabalho, por que faria isso agora? – Então... Como podem bem observar, meu irmão é um homem muito bonito. – escuto alguns concordarem com ela, mas estou paralisado demais para olhar para meus alunos; encaro apenas minha irmã maluca. O que ela pretende com isso? Envergonhar-me? – Eu trabalho para um estilista muito famoso, e ele vai fazer um mega desfile no Rio de Janeiro. Eu vou com ele. – acrescenta, sorrindo. – Só que ontem aconteceu uma coisa muito chata. Nosso modelo principal caiu da escada e quebrou a perna. Acreditam? Terrível, terrível. – coloca a mão na testa, encenando algo dramático. Reviro os olhos. – E meu querido chefe me deixou responsável por achar algum substituto igualmente lindo, para ir ao Rio de Janeiro conosco. Hoje é o último dia de aula de vocês, não é? Estive pensando, como meu irmão estará de férias, ele pode... – finalmente percebo onde ela quer chegar e dou um passo à frente. 
- Não. – digo, sério, e ela apenas me encara sorrindo. 
- Sim. – me olha, agora furiosa, mas logo vira para os alunos novamente. – Ele pode ir comigo e participar do desfile, como modelo, e de quebra ganhar férias em um lugar lindo. O que vocês acham? 
- Uma ideia maluca. Sem qualquer cabimento. – eu respondo, frio. Ela nem me olha. 
- Acho genial. Nunca entendi o motivo de ninguém ter descoberto ele ainda. – Ella argumenta, com um sorriso, mas eu ignoro. Ela já tentou me seduzir no ano passado, mas não dei chance alguma para ela. Não me leve a mal, Ella é muito bonita, mas sou honesto demais para me envolver com uma aluna. E ainda mais com uma aluna fútil feito ela. 
- Também acho. – outra aluna comenta, e eu começo a me sentir sem graça. Cruzo os braços, sem saber como aquilo vai terminar. Só sei que não vou aceitar algo assim. Mesmo. 
- Ótimo. Então está decidido. Você vai. – ela diz e o sinal toca. Sai dali sem me dar tempo para responder e eu praticamente saio correndo atrás dela. Entra em seu carro e eu faço o mesmo. – Olá. Quer carona? – não me espera responder, apenas liga o motor e sai dali. 
- Você é maluca? Enlouqueceu de vez? Tem ideia da confusão que isso pode me causar? – me seguro para não começar a gritar, mas atiro as perguntas nela sem parar. 
- Que confusão? Confusão nenhuma, meu bem. Eu falei com o diretor antes de ir até a sala e ele deu o maior apoio, já que você estaria de férias de qualquer forma. 
- Você o que? 
- Ai maninho, relaxe. Vai ser bom pra você. 
- Eu não disse que iria. Disse? – a encaro de modo desafiador e ela ri, sem desviar os olhos da estrada. 
- Ah, mas você vai. Acredite. 

Jennifer

- Credo, esse aeroporto está muito cheio. – Melanie já chega reclamando e eu rio. 
- Bom dia pra você também, priminha. – ela sorri e me abraça. Mel é mais alta que eu, e é muito bonita. Tem os cabelos loiros e olhos verdes e tem algo nela que a diferencia das outras modelos que conheci. A sinceridade, talvez. Não sei como demoraram tanto tempo para convidá-la para participar de desfiles. Ela nasceu pra isso.
- Você trouxe a habilitação? 
- Você quer dizer minha carteira de motorista? – pergunto, confusa, e ela assente. – Não, por quê? – minha prima arregala os olhos e eu dou de ombros – Por que deveria? Eu nem tenho um carro, Melanie. 
- Mas você é burra mesmo, hein. Ô cabeça, é você quem vai dirigir até o hotel. Eu nem fiz minha habilitação ainda, tive que parar as aulas por causa da carreira. 
- Ué, mas eu pensei que o pessoal que trabalha com você ia com a gente. 
- Eles já estão lá. – reclama, impaciente. 
- Eu preciso de um café... 
- Aproveita e traz um pra mim. Mas deixa seu passaporte comigo. – entrego a ela minhas coisas, e coloco o celular e o dinheiro no bolso. Vou andando calmamente até o outro lado do aeroporto, onde tem uma cafeteria, pensando sobre a viagem. Vai ser legal conhecer o Rio de Janeiro. Vi algumas fotos de lá e deu para reparar que é uma cidade muito bonita. Claro que não é a Austrália, mas vai ser maravilhoso da mesma forma. 
Uma lojinha à minha esquerda atrai minha atenção, é cheia de colares com mapas e nomes de lugares. Entro e olho todos rapidamente, mas obviamente meu olhar para sobre um colar. Austrália. Ele é dourado e tem um mapa do lugar. Impossível não reconhecer. Não demoro a ir até o caixa e o comprar, logo colocando o colar em meu pescoço. 
Chego ao pequeno lugar, feliz por não ter nenhuma fila ali. Encosto-me ao balcão e peço dois cafés. O atendente sorri para mim e eu agradeço. 
- Você não é daqui, é? – acabo perguntando, sem conseguir me controlar. Percebi algo diferente em seu sotaque. Era adorável. Não era nem britânico, nem americano, nem australiano. Era algo no meio disso. 
- Não. Sou alemão. – ele sorri novamente, me entregando os cafés. Agora que falou, consigo reparar que ele é da Alemanha. Tem inclusive um colar com o nome do lugar. Pelo visto a loja onde comprei o meu da Austrália faz muito sucesso. Vejo seu nome no crachá e meu sorriso aumenta. O mesmo nome de meu avô. 
Danke, Tobias. – agradeço, em alemão, e ele dá uma risadinha. 
Começo a ir novamente até o local do check-in e levo um susto quando meu celular começa a tocar. Não tenho como pegá-lo, já que está em meu bolso e eu tenho um café em cada mão. Quem poderia ser? 
O barulho começa a me irritar e as pessoas também me olham irritadas, com aquela cara de “por que você não atende essa porcaria logo?”. Bem, pessoal, eu estou com as mãos meio ocupadas. 
Acabo chegando ao limite e por ainda estar na metade do caminho, tento equilibrar os dois cafés em uma mão só, enquanto caminho e tento alcançar o celular no bolso. Acabo batendo contra uma pessoa e um dos cafés vira sobre ela. O outro permanece em minha mão. E o celular continua tocando. Isso poderia ficar pior? 
- Ah, meu Deus. Desculpe. Mil desculpas, eu não vi você e... – começo a me desculpar com o homem, nervosa; enquanto ele apenas me olha, furioso. Não consigo deixar de reparar em seus belos e brilhantes olhos azuis, mas não acho que ele gostaria do elogio nesse momento; então apenas afasto o pensamento. 
- Qual é o seu problema? – murmura, num tom tão frio que me assusta. 
- Nossa, eu já pedi desculpas. – reclamo, ofendida. Quem ele pensa que é para falar comigo desse jeito? Não obtenho resposta, já que o homem apenas vira as costas e entra no banheiro que tem ao nosso lado. 
Sinto uma tontura repentina e preciso me sentar. Assim que me sento, o celular desliza do meu bolso e cai na cadeira, ao meu lado. Ele continua tocando e vejo no visor que quem liga é minha prima. Atendo, a contragosto. 
- Oi. 
Onde você está? Eu já fiz o check-in, você precisa vir para cá, a gente logo vai embarcar


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