20 junho 2014

Sorte ou Azar? - Capítulo 16 #Day20


Posso ter azar crônico – possivelmente provocado apenas por minhas próprias inseguranças –, mas não sou idiota. Não contaria aos pais de Miley onde ela havia conseguido a droga. Já estava sendo difícil me encaixar na escola – considerando o rato sem cabeça que apareceu na porta do meu armário e os boatos sobre o assédio na minha cidade – sem que me rotulassem de dedo-duro. 
De modo que o fato de Liam ser expulso não teve nada a ver comigo. Quando, durante o terceiro período da manhã de segunda-feira, correu a notícia de que os administradores da escola estavam revistando os armários das pessoas, nem pensei nisso. 
Mas desconfiei quando, durante o quarto período (História dos EUA, que por acaso eu fazia junto com Miley e Liam, mas Miley não estava na escola na segunda, porque tinha consultas com o terapeuta e com o médico), o diretor apareceu na porta da sala e falou com a Sra. Tyler: 
- Posso falar com Liam Hemsworth, por favor? 
Até eu soube que não era bom sinal. 
Então, no almoço, correu a notícia de que ele havia ido embora. Expulso. Havia dançado. 
- Bem, eu, por mim, estou satisfeita. – Taylor foi filosófica com relação à coisa toda enquanto lambia a embalagem de seu Devil Dog. – Tipo, agora o Robert vai ter muito mais dificuldade para conseguir. Você sabe. Bagulho. Claro, ele poderia ir à Washington Square, comprar. Mas metade daqueles traficantes são policiais disfarçados. Ele não vai se arriscar. Se for apanhado, os pais matam ele. Agora talvez ele até fique careta no baile. Vai ser uma mudança.  
- Vou ter que ir ao baile careta? – Robert pareceu meio nauseado. – Cara, isso não está certo. 
- Ah, cai na real – disse Taylor. – Vai ser bom você ver como é a vida das pessoas normais. 
- Como a vida das pessoas normais é um saco – retrucou Robert. 
Eu estava rindo da consternação dele quando uma voz familiar e grave, muito perto do meu ouvido, disse: 
- Pode rir, DEDO-DURO. 
Quase engasguei com o Nuggets. Virei-me no banco e vi Chelsea e Emily me encarando, de cara feia.
Ai, que saco! 
Era nessas horas que eu desejava que Selena aparecesse atrás de uma névoa qualquer. Não que ela fosse briguenta, mas ela não suportava esse tipo de coisa como eu - e, aparentemente, como Taylor - suportava, ela já teria levantado e feito o nariz de uma delas sangrar.

- Está feliz agora, dedo-duro? – quis saber Chelsea. – Como se não bastasse roubar Joe debaixo do nariz de Miley? Tinha de fazer o namorado dela ser expulso da escola, também? 
Olhei as duas garotas. 
- Eu não roubei o Joe de ninguém – respondi quando finalmente encontrei a voz. – Ele e eu não estamos namorando. E ele e Miley também não estavam. E não sei do que você está falando, sobre o Liam. Não fui eu que contei. 
- Ah, até parece – Emily fez uma careta. – Filha de pastora? Claro que foi você. 
- Não fui. 
- Pode dizer o que quiser, dedo-duro – rosnou Chelsea. Em seguida ela e Emily pegaram as bandejas e foram para o canto mais distante do refeitório. 
Quando me virei de volta para a mesa, perturbada, Taylor estava com uma expressão simpática. 
- Ah, Demi. Não deixe essas bruxas pegarem no seu pé. Sabemos que não foi você. E, mesmo que fosse, quem poderia culpá-la, depois do que aconteceu com Miley? 
Porque, claro, a notícia da tentativa de suicídio de My havia se espalhado pela escola como fogo na mata, ainda que eu não tivesse dito uma palavra a respeito. 
- Não fui eu – insisti, com ferocidade. 
- Não se preocupe. – Robert parecia entediado. – Ninguém ouve aquelas duas mocréias, mesmo. 
Mas ele estava errado. Ou isso ou Chelsea e Emily não eram as únicas que estavam dizendo que eu havia dedurado o Liam. Em todo lugar aonde eu ia, as pessoas começavam a cochichar, e só paravam quando eu olhava na direção delas. Quando chegou o horário da educação física, no quinto período, eu já havia suportado tudo que podia. 
Só havia uma única outra pessoa na Chapman cuja reação ao lance com o Liam me importava. E ele vinha me evitando como a peste desde a noite de sábado. Eu não havia chegado suficientemente perto do Joe para trocar uma única palavra com ele, quanto mais enfiar o sache de Lisa em sua mochila. 
Não que eu o culpasse. Contando os meus problemas com Miley e depois o negócio de ser bruxa – e agora isso –, eu devia parecer o grande imã de azar que eu sabia que, de fato, era.
O professor Winthrop tinha mandado a gente jogar softball de novo. Não foi milagre eu e Joe pararmos no mesmo time. O professor Winthrop, num raro momento de bom humor, aparentemente decidiu que seria hilário nomear uma nerd musical – e supostamente dedo-duro, se bem que tenho quase certeza de que ele ainda não sabia disso – como capitã de time. Joe, claro, foi a primeira pessoa que escolhi. Ei, esse podia ser o único modo de conseguir fazer com que ele falasse comigo. 
Mas eu estava errada. Mais uma vez. Ele falou comigo por livre e espontânea vontade enquanto esperávamos nossa vez de rebater. 
- E então, prima Demetria de Iowa. Você não estava mentindo quando disse que tinha azar crônico. Sério, você tem a pior sorte que eu já vi. Agora ouvi dizer que é dedo-duro. 
Precisei me esforçar – de verdade – para não abrir o berreiro ali mesmo, atrás da cerca de aramado, mesmo que todos soubéssemos que choro não fazia parte das regras do beisebol. Nem do softball. 
- Não fui eu – respondi um pouco alto demais. Todo mundo no nosso time olhou para mim. 
O sorriso de Joe foi gentil. 
- Relaxa, Demi. Sei que não foi você. Mas é interessante que o boato seja esse, não é? 
- Faz sentido – dei de ombros. – Quero dizer, ela é minha prima. Eu sou nova aqui. Sou... 
- ... filha de pastora. É, eu sei. Ouvi tudo isso, também. Então, o que vai fazer? 
Dei de ombros outra vez. 
- O que eu posso fazer? 
- Ir ao baile comigo. 
Lancei-lhe um olhar fulminante. 
- Pirou de vez? Isso só vai piorar tudo. Chelsea e Emily já estão dizendo por aí... 
- Exatamente. Chelsea e Emily só estão pondo lenha na fogueira. E por que você acha que elas estão fazendo isso? 
Porque não quero me unir à Miley e ajudá-las a formar o coven de bruxas mais poderoso da costa leste. Só que eu não podia dizer isso. Por isso, falei: 
- Porque me odeiam. 
- Certo. Mas por que odeiam você? Porque Miley mandou. 
Balancei a cabeça, confusa. 
- Está dizendo que Miley disse a elas que fui eu que fiz Liam ser expulso?

- Isso parece alguma coisa fora do comum, dado o que você sabe sobre sua prima? 
Pensei nisso. Pensei mesmo. Só não conseguia ver Miley fazendo uma coisa tão sorrateira. Fingir uma tentativa de suicídio, sendo tão dramática, sim. Mas espalhar um boato a meu respeito, que ela sabia que não era verdadeiro? 
Por outro lado, ela andava usando muito o MSN ultimamente... 
Mesmo assim. 
- Não sei, Joe. Acho que nem mesmo Miley se rebaixaria tanto. 
- Ótimo. Mas no caso de você mudar de idéia... o convite está de pé.
- O convite... para o baile? – Lamento dizer que no fim da frase a minha voz subiu até se transformar num berro. 
- É – Joe pareceu achar aquilo divertido, acho que por causa do lance do berro. – O próprio. 
- Mas... – A verdade é que, mesmo tendo dito aquelas mesmas palavras duas noites antes, dizer que eu não iria ao baile com ele era algo que continuava doendo... doía mais ainda do que a oferta que fiz aos pais de Miley, de voltar para Hancock. 
Mas eu sabia que não deveria cobrar um convite que ele poderia se arrepender de ter feito. Quero dizer, não seria justo. Ninguém, nem mesmo um cara fantástico como o Joe, quer se ligar a alguém com fama de dedo-duro. 
- Sério, Joe. Está tudo bem. Você pode levar outra garota. Não vou me importar. 
Isso me mataria. Mas eu não deixaria que ele soubesse. 
Mas, para minha surpresa, em vez de discutir mais, ele disse: 
- Olha, você está estudando História dos EUA. A Sra. Tyler já entrou nos diferentes estilos de governo? 
- Já – imaginei o que, afinal, isso teria a ver com o baile. 
- Ela chegou ao governo estilo laissez-faire... que deixa as coisas seguirem seu próprio rumo? 
- A abstenção, por parte do governo, de intervir no livre mercado – disse eu. 
- Certo. Acho que você pode dizer que eu sempre tive uma abordagem meio laissez-faire com relação a Miley. Enquanto ela não pegasse no meu pé, eu não pegava no pé dela, entende? Durante um tempo, suspeitei que ela fosse a fim de mim, mas...

- Mas você gostava de Petra – terminei por ele. – E enquanto continuasse amigo de Miley, tinha uma desculpa para ir vê-la. Quero dizer, ver Petra. 
Ele pareceu sem graça. 
- Bom. É. Basicamente. Pelo menos por um tempo. Mas o negócio é o seguinte: não planejo continuar com a abordagem laissez-faire com relação a Miley... nem com mais ninguém. Acho que está na hora de tomar partido. 
- Mas Joe, se você e eu formos ao baile – falei, cautelosa –, e Miley ficar furiosa e depois eu – engoli em seco – voltar para Hancock, você não terá mais desculpa para ver Petra. Miley não vai perdoá-lo, e você sabe disso. 
- Sei. É isso que estou tentando dizer. Estou preparado para esse sacrifício. 
Olhei-o, curiosa. 
- Mas por quê? Por que faria isso? Você deixou de amar a Petra? 
Joe estava com a expressão mais estranha do mundo no rosto. Parecia a meio caminho entre a frustração e a diversão. Abriu a boca para dizer alguma coisa, mas foi interrompido pelo professor Winthrop, que berrou: 
- Jonas! Sua vez! 
Dando um sorriso de desculpa, Joe foi pegar um taco. 
Recostei-me no banco, imaginando o que ele iria dizer. Será que os sentimentos de Joe por Petra haviam mudado? Será que o fato de vê-la tão empolgada com a visita iminente de Willem por fim o fez perceber que nunca teria chance com ela? 
O que estava acontecendo?
Confesso que me animei um pouquinho com a hipótese. Ok, me animei muito. Mas precisava de respostas. Quer dizer, não posso me prender a uma suposição feita por minhas esperanças, certo? 
Mas não consegui descobrir, porque mais tarde, no jogo, alguém fez uma rebatida que colidiu com minha cabeça (típico) e precisei ficar sentada na lateral até que o professor Winthrop finalmente se convenceu de que eu não tive uma concussão e me deixou voltar ao vestiário para me trocar. 

Mas se os sentimentos de Joe por Petra eram passado, não eram os únicos, descobri quando cheguei em casa naquele dia. Parece que o mesmo havia acontecido com os sentimentos de Miley por mim. Pelo menos seus sentimentos de animosidade contra a minha pessoa. 
Ou pelo menos era o que ela dizia. 
Eu estava estudando música no quarto quando ouvi a batida na porta.

- Entre – falei, baixando o violino. Sabia que tinha de ser alguma coisa importante. Eu havia enfiado na cabeça de Braddy e Ashley que não deveria se perturbada durante minha hora de estudo a cada tarde, não importando o que tivesse acontecido no Bob Esponja
Eu deveria saber que não poderia ter sido nenhum dos dois Pitt mais novos, que realmente eram bons em não me atrapalhar quando ouviam Stravinsky saindo do meu quarto. Em vez disso, era Miley. 
- Ei – disse minha prima, depois de fechar a porta e se encostar nela. – Tem um minuto? 
Encarei-a. Havia alguma coisa... diferente nela. Diferente mesmo. A princípio não pude identificar direito. 
Então percebi: ela não vestia preto. Estava com jeans, jeans comuns, não dos que ela usava algumas vezes, todos enfeitados com ankhs e pentagramas desenhados com marcador de tecido preto. 
E também não estava usando uma tonelada de maquiagem. Sendo uma garota de aparência incrível, Miley nunca havia precisado de todo o delineador e o rímel que ela costumava colocar, de qualquer modo. Sem aquilo, parecia igualmente linda... só que de um modo diferente, mais vulnerável. 
Havia outra coisa diferente, também. Demorei mais um minuto para me dar conta do que era, mas então percebi. Ela não estava me olhando com raiva. Na verdade, parecia... bem, como se estivesse feliz em me ver. 
- Só queria pedir desculpas – disse ela – pelo modo como tenho tratado você desde que chegou aqui. 
Quase larguei o violino, de tão atônita.

- Sei que ultimamente tenho sido uma verdadeira psicótica – continuou Miley. – Não sei o que anda acontecendo comigo. Acho que simplesmente foi demais: a escola, a pressão para ser popular, o negócio com o Joe e... o lance de ser bruxa. E acabei pegando pesado com você. O que não é justo. Agora consigo perceber isso. Meu terapeuta, você sabe, aquele com quem me consulto, está realmente me ajudando com isso. Assim, eu queria dizer que sinto muito pelo modo como tenho agido, e agradecer pelo que você fez naquela noite, com os remédios e coisa e tal. Sei que você só fez aquilo porque estava preocupada comigo. Tenho sorte de ter tanta gente tão preocupada comigo. Isso foi um verdadeiro alerta para mim. De modo que... obrigada, Jinx. E... se não for problema para você... gostaria que me desse outra chance. 
Não consegui parar de encará-la. Tinha ouvido falar de milagres realizados por terapias, mas nunca esperei nada como aquilo. 
- Eu... – O que eu poderia dizer? Estava empolgada por ter a antiga My, a de cinco anos atrás, de volta. Se fosse realmente verdade. – Ah, My. Está falando sério? 
- Claro que estou – Miley abriu um sorriso. Até o cabelo dela parecia diferente. Estava preso no alto, fora dos olhos, de modo que ela quase parecia... bem... comportada. E feliz, para variar. – E não quero mais brincar de ser bruxa. Essa coisa toda sobre vovó e Branwen... era só idiotice. Assim como o negócio com o Joe e o boneco... – Ela estremeceu. – Meu Deus! Não acredito que cheguei a fazer aquilo. É tão vergonhoso! Coloquei aquele boneco idiota no lixo e esqueci dele, como você mandou. Quero realmente que sejamos amigas de novo, Jinx. Você acha que pode? 
- Claro que a gente pode – respondi. Porém havia alguma coisa me incomodando... e não era só o minúsculo nó que começava a se formar no meu estômago. – Mas e o... Liam?

- Liam? – Miley ficou confusa. Depois riu. – Ah, Liam! Eu sei, dá para acreditar? Não acredito que alguém o entregou desse jeito. Mas ele vai ficar bem. Ouvi falar que o pai dele já mexeu uns pauzinhos para colocá-lo na Spencer. Se bem que o doutor Kettering teve de trancar todos os blocos de receita. 
Encarei-a. 
- Suas amigas, Chelsea e Emily, parecem achar que fui eu que fiz isso. A escola toda parece achar que fui eu. 
- É? – Miley balançou a cabeça. – Mas que idiotice! Claro que não foi você. Não acredito. Meu Deus, você tem realmente um tremendo azar, Demi. Sempre teve, né. Essa é uma das coisas que mais adoro em você, acho. Você é simplesmente tão... previsível. 
Encarei-a, mais uma vez. Ela parecia realmente estar falando sério. Parecia ser... bem, a antiga Miley. Parecia mesmo. 
A próxima coisa que percebi foi que eu estava indo abraçá-la – depois notei que ainda segurava o arco e o violino. Rindo, pousei-os e segui para abraçá-la. 
Não podia acreditar! Enquanto ela me abraçava, tive de piscar para afastar as lágrimas dos olhos. Não parecia possível, mas estava mesmo acontecendo. Eu tinha a antiga Miley de volta! 
- Ah, Demi – disse ela quando finalmente nos soltamos. – Fico tão feliz porque você me perdoa! Em especial porque fui tão horrível com você.
- My – Balancei a cabeça. – Sempre vou perdoar você. Família é para isso, não é? Mas... – Havia sido necessária uma ida ao hospital, para dar um jeito nela, mas Miley parecia genuinamente com remorsos. Mesmo assim. – Você tem mesmo certeza... quero dizer... 
- Ah, Demi, não precisa mais se preocupar comigo – ela riu. – Estou legal, verdade. Só espero que você não... você sabe. Não se sinta sem jeito. Não com relação ao negócio de ser bruxa, mas com relação ao Joe. Eu realmente superei. Verdade. Juro. Não me importo nem um pouco que vocês estejam namorando. Na verdade acho que vocês formam um casal lindo. Serão um casal fantástico no baile.

- Obrigada – agradeci, desconfortável. - Mas, como vivo dizendo... nós não estamos namorando. Certamente não vamos ao baile juntos. 
- Por quê? Ele não convidou? – Os olhos de Miley estavam cheios de preocupação. – É estranho. Quero dizer, vocês dois ficaram tão unidos... mesmo que sejam só amigos, achei que ele iria convidar você para o baile... 
- Bem – fiquei sem jeito. – Ele convidou. Mas eu recusei. Porque não parece... 
- Ah, Demi! – exclamou Miley, vindo até mim e apertando meu braço. – Vocês dois têm de ir juntos! Têm! Não vai ser a mesma coisa, se você não estiver lá. 
- Se eu não... – Minha voz ficou no ar. – Você ainda vai? Mas eu pensei... 
- Claro que vou! Não com o Liam, claro. Ele não pode ir a nenhum evento da escola. Mas pensei em ir, você sabe, sozinha. Um monte de garotas vai. Não vou parecer a maior esquisita de lá por causa disso, nem de longe. E quem sabe? Talvez eu encontre alguém... alguém um pouquinho mais interessado em ser só amigo, em vez de amigo com benefícios. – Ela piscou para mim. – Se é que você entende. 
- Grande idéia – respondi, pensando que era exatamente disso que Miley precisava: um recomeço, especialmente no departamento do namoro. – Espere, já sei. Por que não vamos juntas? Você e eu... podemos procurar uns caras novos, nós duas... 
- Ah, não. E deixar o coitado do Joe de fora? Não é justo. Você precisa ir com o Joe, Demi. Precisa ir. Se não for... bem, vou achar que foi por minha causa. 
- Bem... – hesitei. 
Miley bateu na boca. 
- Ah, não! É por minha causa, não é? Ah, Demi, estou me sentindo péssima. Péssima! Não quero que meus problemas idiotas afetem outras pessoas. Demi, você precisa ir com ele. Precisa ir. 
- Mas eu já disse que não iria – expliquei meio impotente. 
- E se você ligasse para ele e dissesse que mudou de idéia? Tenho certeza que ele ainda vai querer ir. 
- Bem... Não sei. Talvez. Mas...
- Ah, liga para ele. – Miley pegou o telefone sem fio que estava na minha mesinha-de-cabeceira. – Liga agora mesmo e diz que mudou de idéia. 
- Não é tão fácil, My – pensei na expressão de Joe na última vez em que eu o tinha visto, quando perguntei se ele ainda estava apaixonado por Petra. Ele havia parecido tão estranho... Se não estava mais apaixonado por Petra, que incentivo teria para ficar perto de mim? 
Nenhum, claro. 
Lembrei que ele foi falar comigo por vontade própria hoje, também. Então, mesmo não estando mais apaixonado por Petra, ele ainda queria ficar comigo. Então Joe gostava de verdade de mim. Mesmo que só como amigo, isso já era maravilhoso. Pra mim já estava perfeito.
- Você nunca vai ter certeza, se não tentar – Miley estendeu o telefone para mim. 
Olhei para o aparelho. Ela estava certa, claro. E que mal faria perguntar? 
Dando de ombros, peguei o telefone e digitei o número do Joe. 
Ele atendeu ao segundo toque. 
- Joe? – falei. – Sou eu, Demi. 
Não percebi que estava prendendo o fôlego até que ele disse: 
- Ah, ei – numa voz que indicava que estava até feliz em falar comigo. 
Então soltei o ar, num jorro. 
- Como vão as coisas? – perguntou ele. – Como vai sua cabeça? Te procurei depois da aula, mas você tinha ido embora. 
- É, agora estou legal – encolhi-me diante dessa lembrança de minha muito embaraçosa incapacidade atlética. 
- Bom. E como vai sua prima? Ela... 
- Miley está ótima – interrompi, rindo para Miley. Ela riu de volta, levantando os polegares para dar sorte. – Na verdade, é meio por isso que estou ligando... por causa do baile da primavera. O negócio é que... hoje Miley está se sentindo muito, muito melhor. E disse que realmente odiaria se a gente não fosse ao baile por causa dela. 
- Ah, ela disse isso, foi? 
- Disse. De verdade. Por isso eu estava imaginando se você ainda queria ir. – Percebi que estava com as palmas das mãos suadas e enxuguei-as nos jeans, transferindo o telefone de uma das mãos para a outra. – Quero dizer, comigo. 
- Demi – disse Joe. 
- O quê? 
- Miley está aí no quarto com você, agora? 
- Ahã – respondi, tendo o cuidado de não encarar Miley. 
- Não acha que isso parece alguma armação?

- O quê? – fiquei espantada. – Não. Não, Joe, não é nada disso. Ela vai ao baile também... sozinha, é claro, por causa do que aconteceu com o Liam. E disse que iria se sentir mal se a gente não fosse. 
Pigarreei. Era esquisito demais. 
- Não tem nenhum problema se você já arranjou alguém para levar – acrescentei depressa. – Eu só estava checando. Para o caso de não ter arranjado. Mas se vai com alguém, não tem problema, verdade...
- Não é isso. Só que você não acha que isso é algum tipo de... 
- Demi – disse Miley. Olhei para ela, tirando o telefone da orelha e deixando de ouvir o que Joe estava falando. Miley estava estendendo a mão. – Deixe eu falar com ele. 
Sem saber o que fazer, entreguei o telefone a ela, que disse na voz mais animada que já havia usado na minha frente: 
- Joe? Oi, sou eu, Miley. Olha, Joe, sei que parece repentino, mas estou realmente agradecida pelo que Demi fez por mim. Só queria que minha prima soubesse como me arrependo e como andei tratando-a desde que chegou aqui, e... o quê? Ah, claro, Joe. Já fiz isso. E Demi parece mesmo a fim de me dar outra chance. Eu esperava que você também pudesse dar. 
Houve um silêncio enquanto Miley ouvia o que Joe estava dizendo. Depois, o rosto dela se abriu num sorriso enorme. 
- Ótimo – ela comentou. – Obrigada, Joe. Você não vai se arrepender. É. Está aqui. 
Ela me devolveu o telefone, murmurando: "Ele disse que sim!".
Não dava para acreditar. Sorrindo, encostei o fone no ouvido. 
- Joe? 
- Ou ela pirou de vez ou está tentando aprontar alguma para cima de você – disse Joe. – Mas não sei como vamos provar qualquer uma das hipóteses. Então acho que devemos ir. Pelo menos, se estivermos juntos, vou poder ficar de olho nela. Além disso, quanto problema alguém pode causar num baile de escola?

- Verdade – lancei um olhar nervoso para Miley, preocupada com a hipótese de ela ter ouvido. Mas ela estava olhando para a partitura que eu estava tocando e não parecia prestar a mínima atenção. – Parece legal... Então... – Eu queria perguntar sobre o que ele havia dito no jogo, sobre Petra, mas descobri que não podia, com Miley ainda no quarto. 
- Ela ainda está aí? – perguntou Joe. 
- Sim. 
- Olha, falo com você amanhã, na escola. Certo? 
- Certo – concordei, aliviada. Aliviada porque não teria de tocar no nome de Petra, afinal de contas. Porque havia uma parte minha que realmente, realmente mesmo, não queria saber. – Tchau. 
- Tchau – Joe desligou. 
Coloquei o telefone na base. 
- Bom – falei a Miley. – É isso aí. 
- Ele disse que sim, mesmo? – perguntou ela, ansiosa. 
- Disse mesmo. 
- Uau! – Miley ficou pulando e batendo palmas, se parecendo tanto com o que era antigamente, a Miley com quem eu havia me divertido horrores há cinco anos, que ficou impossível achar que Joe poderia estar certo com relação a ela. Talvez ele só estivesse sendo um nova-iorquino blasé. Talvez Miley tivesse realmente aprendido uma lição e mudado. 
Mas eu estava pensando no que ela havia dito antes, sobre ter posto o boneco do Joe no lixo. Seria verdade?
Não que eu – diferentemente do Joe – não acreditasse na transformação dela. 
Mas não conseguia tirar da cabeça aquele olhar que ela havia me dado no sábado à noite, na escada. Era ótimo que ela tivesse tido essa mudança de atitude, que tivesse desistido do negócio de ser bruxa – o que, em seu caso, não havia sido algo que lhe dera força, como deveria ter sido, e fora mais perigoso do que qualquer outra coisa. 
Mas e se não fosse verdade? Digo, e se tudo fosse fingimento? 
Fiquei me sentindo PÉSSIMA só por pensar em uma coisa dessas. Quero dizer, era óbvio demais que Miley estava pronta para um recomeço. Até pediu para ficar sentada me ouvindo ensaiar. Deixei, claro – estava lisonjeada demais para dizer não.

E então, quando ela sugeriu que a gente descesse e fizesse sundaes com calda quente e assistisse a umas reprises de The Real World, bem, também não recusei.

Porém, mais tarde, naquela noite, depois do jantar – a refeição mais agradável que eu havia tido na casa dos Pitt, vendo como Miley conversava animada o tempo todo, em vez de fazer comentários carrancudos sobre tudo que as pessoas diziam – saí pela porta da frente, desci a escada e fui para a rua. 
Onde comecei a revirar o lixo dos Pitt. 
Não demorei muito a encontrar. Estava numa sacola de compras escrito Eu ♥ Nova York, sozinho. O boneco do Joe, feito por Miley. Ela HAVIA mesmo jogado fora. 
Ela HAVIA mesmo mudado. 
E, mesmo ela tendo dito que não queria mais brincar de bruxa, levei o boneco do Joe, dentro da sacola, de novo para dentro de casa. Não porque não confiasse nela – não era isso DE JEITO NENHUM. Só que... bem, quer Miley tivesse o dom da magia ou não, ainda era um boneco com o cabelo do Joe. 
E de jeito nenhum eu iria deixá-lo mofar em algum aterro em Staten Island. 
Levei o boneco para o meu quarto e tirei da sacola plástica. 
Era realmente o boneco mais horrível que eu tinha visto. Mesmo assim, simbolizava o Joe. Quem poderia saber? Talvez eu o entregasse a ele algum dia (depois de fazer com que ele jurasse segredo com relação a onde eu o havia conseguido), só para rir um pouco. 
Mas então, no momento em que ia cair no sono naquela noite, uma coisa me ocorreu. Era idiotice, eu sabia. 
Mas mesmo assim isso me impeliu a levantar e tirar o boneco do esconderijo que eu havia arranjado. 
E sei que provavelmente era a coisa mais idiota para se fazer no mundo. Mas também sabia que não voltaria a dormir se não fizesse isso: separei com cuidado todos os fios do cabelo de Miley, deixando só os de Joe na cabeça do boneco, e joguei os de Miley no vaso sanitário. 
Depois, recoloquei o boneco no lugar e caí no sono mais profundo que já havia experimentado desde que tinha me mudado para Nova York. 
Talvez a moça da Encantos estivesse certa.

Tudo realmente iria ficar bem.

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Oláaa skyscrapers, como vocês estão? Gostaram do capítulo? Acham que está ruim? Comentem!
Eu nunca sei o que falar direito nos capítulos... Porque geralmente coloco uma pequena crítica sobre o que vou postar ou postei, algum comentário e tal, mas realmente não sei o que fazer nas fanfics, porque não vou comentar sobre alguma coisa minha e não tem mais nada que eu pense... Se tiverem alguma ideia, por favor, me falem. 
Okay?
Okay.
♥...♥
Até amanhã, xoxo


2 comentários:

  1. Oi!
    Só hoje é que eu me lembrei de fazer uma pergunta no seu ask :)
    Quanto ao capítulo: "Quase engasguei com o Nuggets." Não sei porquê mas comecei a rir imaginando isso. Gostei muito do capítulo!
    Eu às vezes também fico sem saber o que dizer após ter escrito o capítulo. Mas, sei lá, conta se foi difícil ou não escrevê-lo, ou situações no capítulo que achou engraçadas ou faça um pequeno resumo das coisas importantes (essa última é o que eu faço!).

    Beijos.

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    1. Oii .

      Acabei de responder a pergunta, obrigada por mandar lá ^^
      Vou confessar uma coisa: também ri escrevendo essa parte kkkk
      Gostei muito das dicas, vou usar com certeza. Obrigada :3

      Beijos :*

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