30 novembro 2013

Never Too Late - Parte IV


Malibu, Califórnia, 13 de Julho, sábado.

“Pare de sonhar e comece a viver! Saturno ainda está te ajudando, então aproveite! No amor, podem rolar paixões surpreendentes e avassaladoras, se jogue! Nas amizades, o clima é de bom humor e alto astral. Nas férias, faça questão de se divertir.”

Foi com essa previsão que eu me deparei hoje, e sinceramente, eu adorei! Meu horário na loja já havia acabado, e eu já havia trocado de roupa para ir almoçar com John, afinal, eu não iria sair com ele de uniforme. John apareceu na loja todo sorridente e com a roupa que tinha comprado no dia anterior. Eram aproximadamente duas da tarde quando entramos no meu restaurante preferido, aquele lugar era um pedaço de céu na terra, além de ter uma ótima comida, ainda possuía uma das vistas mais lindas que eu já tinha visto. Assim que fizemos os pedidos surgiu um silencio constrangedor e eu logo tratei de puxar assunto.

– Então... – olhei pra ele rindo e disse divertida. . – não sabia que professores tinham amigos e ainda se divertiam.
– Ah não! Eu sou uma exceção. – ele disse rindo e entrando na brincadeira. – afinal, todos os professores gastam tempo demais estudando e ensinando.
– É que eu nunca parei pra imaginar algum professor meu se divertindo. – fiz uma careta. – deve ser estranho...
– É normal pensar assim – ele riu. – mas acredite, ser professor é bem legal.
– Pelo visto você gosta mesmo de ensinar...
– Eu amo! Acho que se pudesse escolher novamente minha profissão, eu escolheria a mesma. – ele falou dando um sorriso de tirar meu fôlego logo em seguida. – você estuda?
– Eu queria realmente dizer que sim, mas não. – disse envergonhada. – eu queria fazer faculdade de francês, mas meu pai quer que eu dê continuidade aos negócios da família, então eu resolvi não fazer nada. – dei de ombros.
– Não se pode deixar os outros escolherem por você, você tem que fazer aquilo que gosta. – ele me olhou ternamente.
– Foi por isso que eu decidi não fazer nada. – sorri.
– Você fala francês? – me lançou um olhar desafiador.
Logique qu'oui! Encore a quelque doute, monsieur? – falei.
– Nossa! Seu sotaque francês é perfeito! – ele disse surpreso.
– Você ainda não viu nada. Sei falar muitas outras línguas. – falei dando de ombros.
– Sério? – perguntou impressionado. – Quais?
– Além de inglês, eu falo francês, português e alemão. – sorri quando vi que ele havia ficado mais impressionado.
– Fluentemente? – ele disse pausadamente.
– Sim.
– Por quê? – ele perguntou confuso.
– Tenho família em vários países. – revirei os olhos. – então eu acabo tendo que aprender a língua quando vou visitar.
– Isso é impressionante!
– Mais impressionante é ser um professor de química em uma universidade! Nem se eu tentasse iria conseguir. – falei rindo.
– Isso não é nada impressionante! – ele riu.

Logo após John falar isso, a comida chegou e assim que ele pagou a conta e entramos novamente em seu carro, ele disse que me levaria a um canto especial, seu canto preferido em toda Malibu e depois de alguns minutos percebi que ele havia me levado ao píer. O céu estava limpo e claro, o mar estava com sua cor azul ainda mais forte, as gaivotas faziam a festa pela areia e havia muitas crianças e adultos por ali, John me puxou até o ultimo banco do píer e me fez sentar, sentando-se ao meu lado.

– Aqui é um bom lugar pra pensar. – ele falou olhando o horizonte.
– É – concordei. – eu nunca dei muita importância pra esse píer, mas olhando assim, esse lugar é perfeito.
– Posso te contar um segredo? – ele olhou pra mim sorrindo e eu balancei a cabeça positivamente. – na segunda vez que eu fui ao seu trabalho eu não queria comprar nada, só fui pra te ver e conversar com você.
– Já desconfiava disso. – falei rindo. – na verdade, minha amiga desconfiou e me fez desconfiar também.
– Droga! Fui descoberto... – ele abaixou a cabeça fazendo um biquinho nos lábios.
– Não fica assim, você supera. – fingi que estava o consolando, fazendo com que ele começasse a rir.
– Sabe... – ele falou depois que paramos de rir e começamos a encarar o horizonte novamente. – eu tive uma infância muito difícil, se me dissessem que eu estaria aqui hoje, eu não acreditaria.
– Como assim? – olhei pra ele interessada.
– Eu tive otite quando era criança, fiquei péssimo, a dor era quase insuportável, tive até que tomar morfina. – ele olhou pra mim e logo em seguida voltou a encarar o horizonte. – até hoje eu me lembro de tudo, por mais impossível que possa parecer.
– Deve ter sido terrível. – comentei baixo e encolhi meus ombros.
– Eu perdi metade da audição do meu ouvido esquerdo – ele falou no mesmo tom que eu. – hoje já to adaptado, mas eu sofri muito por isso antes.
– Nossa, sua infância deve ter sido muito complicada.
– Foi mesmo, por isso que se alguém me dissesse que eu estaria feliz hoje, e estaria olhando pra esse horizonte ao lado de uma mulher incrivelmente bonita, eu não acreditaria. – ele olhou pra mim me fazendo ficar corada e abaixar a cabeça.
– Sei que pode não ser a mesma coisa. – levantei o rosto e o encarei. – mas quando eu era pequena eu também tive problemas.
– Sério? – ele fez uma cara confusa.
– Sim! Eu tava no Brasil brincando com minha prima e fui picada por uma aranha – ele começou a rir. – é sério! Foi terrível! Depois eu fiquei com muita tontura, nunca queira ser picado por uma aranha!
– Espero nunca ser picado mesmo. – ele falou rindo e assim que nossas risadas cessaram olhamos para o horizonte e o silêncio se instalou.
– Você tava certa. – ele comentou me fazendo ficar confusa e olhar em sua direção. – eu não gosto de me divertir, eu só vim porque meu amigo insistiu muito, na verdade, o único canto que eu sonho em ir, é a Austrália.
– Você se arrepende de ter vindo? – voltei a encarar o horizonte e ignorei totalmente o fato de que o sonho dele era o mesmo que o meu, se eu falasse sobre isso, assuntos que eu não gosto iriam vir à tona.
– Não mesmo, esse está sendo o melhor verão da minha vida. – ele falou baixinho.
– Verões são legais. – disse rindo.
– Pra você que ainda é nova! Talvez eu esteja ficando velho demais pra essas coisas.
– Você ta louco? – ri e olhei pra ele. – conheço gente bem mais velha que você que curte bem mais que eu. – rimos e o silêncio voltou.
– Nunca tive um “amor de verão” – ele fez aspas com os dedos no ar e me olhou.
– Nunca é tarde pra tentar. – dei de ombros.
– Você tem razão. Vamos? – afirmei com a cabeça e fomos em direção ao carro de John.

Durante todo o caminho fui indicando por onde ele deveria ir até chegar a minha casa, sabia que ele iria se impressionar, mas diferentemente dos outros com quem já tive encontros, John não sabia sobre ela antes de pedir pra sair comigo. Ao entrar na rua da minha casa, pude ver de longe um muro branco e por trás do muro a mansão onde eu morava, quando pedi pra ele parar, sua cara chegava a ser cômica de tão impressionada que estava.

– Você mora aqui? – ele perguntou surpreso.
– Moro. – falei sem graça. – depois eu te explico tudo direitinho. Amanhã você vai à praia?
– Acho que sim. – ele disse atordoado.
– Então a gente se vê amanhã, obrigada por hoje. – dei um beijo na bochecha dele e sai do carro, entrando em casa com um sorriso enorme. Obrigada saturno por ainda estar me ajudando, vou aproveitar ao máximo essa oportunidade, e seja o que for que eu esteja sentindo pelo John, eu vou meu jogar, pode ser um pouco cedo, mas minha intuição me diz que ele é perfeito pra mim e que eu devo me arriscar.

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